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Inaugurada em 23 de abril de 1931, a Colônia Santa Isabel, instalada no município de Betim, a 30 quilômetros de Belo Horizonte, local onde se enclausuravam pessoas com a doença de lepra e atualmente chamada de hanseníase, vive hoje dias de glória, uma vez que a assustadora doença está praticamente controlada no Brasil.
As pessoas que descobriam serem portadoras da enfermidade eram abandonadas pelas famílias e, como inválidas, eram levadas para a colônia, onde ficavam à mercê da sorte, sem a menor chance de sobrevida, visto que, na época, a medicina não possuía conhecimentos profundos da doença, o que impedia que os doentes se curassem. Naquele tempo os hansenianos eram obrigados a se isolarem na pequena comunidade que era cercada com correntes para impedir o acesso de transeuntes que não fossem portadores da doença.
Lázaro Inácio, de 69 anos, sabe bem explicar a agonia de se ver trancafiado em um local onde todos eram excluídos, vítimas do enorme preconceito. Segundo ele, era comum encontrar pessoas mortas por suicídio. Após se desesperarem e sem ter esperança de cura, se matavam, a maioria por enforcamento. Havia também cerca de seis a oito mortes naturais por dia, decorrentes da pavorosa e incurável doença.
Morador da colônia desde 1945, quando ali chegou com oito anos, Lázaro diz que sofreu muito. Nascido em Carmópolis de Minas, foi expulso do seio familiar tão logo se descobriu que estava infectado. Lázaro conta que foi difícil ouvir comentários como: “pode esquecer dele porque ele foi para lá para morrer”. Hoje ele diz que os que esperavam a sua morte já se foram e ele, apesar de sem família, continua vivo e feliz, afinal, conseguiu se livrar da doença e há sete anos não faz uso de medicamentos.
Ele comandou na comunidade um time de futebol e trabalhou no hospital local, onde morou a até pouco tempo. Depois de tantos anos, logo depois de nos conceder a entrevista, Lázaro se mudou da Colônia e não conseguimos saber para onde ele foi.
Outro interno do hospital é João Pereira dos Santos que veio de Porto Seguro (BA) há 36 anos, na época com 12. Aos sete anos, sua família descobriu que ele era portador da hanseníase e fez tudo para tentar curá-lo. Chegou a ponto de sua mãe vender tudo que tinham, mas foi em vão! Como a doença avançava a cada dia, João foi enviado para Santa Izabel onde passou a maior parte da vida. Hoje, com 48 anos, o baiano, que se expressa muito bem, passa o tempo no convívio com amigos, que na realidade são sua família, aproveitando o aconchego da nova casa.
Todos eles já estão curados e alguns têm apenas seqüelas, mas como não têm para onde ir, continuam ali.
Quando chega uma visita, mesmo desconhecida, todos os moradores se alegram e dão um jeito de se aproximar para um bate-papo.
Quando chega uma visita, mesmo desconhecida, todos os moradores se alegram e dão um jeito de se aproximar para um bate-papo.
Já o enfermeiro Acrísio Bernardino do Nascimento, de 60 anos, conta que nasceu nas proximidades da colônia e sempre esteve em contato com a população dali, mesmo não sendo doente. “Só podia entrar na colônia quem tivesse mais de 18 anos. Eu, mesmo menor de idade, cansei de entrar escondido para participar de alguma festa ou simplesmente para visitar as pessoas”, diz ele. Trabalhando no hospital há 29 anos, Acrísio se diz realizado, pois nunca sentiu preconceito quanto aos hansenianos e tem ali um grande número de amigos. Ele conta que há muitos anos, era comum o hospital receber pacientes encaixotados, devido à gravidade da doença e à falta de informação, o que afastava as pessoas dos doentes.
Segundo a enfermeira Maria Aparecida Alves, o antigo pavilhão da colônia acaba de passar por uma reforma radical. “O pavilhão agora é outra coisa. É muito chique”, diz ela orgulhosa. Foram construídas casas-lares para abrigar os que ali viveram anos sem privacidade, afinal, eles moravam todos juntos, espalhados pelas grandes alas do pavilhão. São casas confortáveis e independentes. Maria Aparecida conta que trabalha no local há 25 anos e que, nesse tempo todo, nunca presenciou um médico dar um laudo constando a hanseníase como a “causa-morte”. Isso é fruto do avanço da medicina que continua lutando em prol da erradicação da doença no Brasil.
Apesar de todo o esforço do Ministério da Saúde, o Brasil ainda é o segundo país em casos de hanseníase, ficando atrás apenas da Índia.
O Hospital Santa Isabel, na colônia, que antes era específico para hansenianos, funciona hoje como pronto-atendimento generalizado e recebe pacientes de toda a região de Betim que ali comparecem em busca de uma consulta emergencial.
Há seis anos, o conjunto arquitetônico da Colônia Santa Isabel foi tombado como patrimônio histórico e cultural de Betim.
Fonte:http://jornalistaruitherferrao.blogspot.com/2007/06/colnia-santa-isabel-o-homem-e-lepra_19.html
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